Artista: Allan Samsa. 2016. Poesia concreta/animação. III MMPMA.

O chão da palavra é uma experimentação de poesia concreta e projeções videográficas. O autor debruçou-se sobre a poesia concreta e suas (im)possibilidades para criar uma série de vídeos onde a palavra explora seu caráter plástico, auxiliada pela distribuição no próprio espaço da página. Nos vídeo-poemas, cada palavra fala de si própria, define-se tal como é, emoldurada apenas por um fundo negro. A exploração máxima do significante leva a palavra para além do plano verbal e as distorções, os movimentos e os sons, ora remetem ao significado, ora transforma a palavra em seu próprio fim, desassociando-a pela forma como é representada. O elo entre as peças é a experiência que busca a percepção de cada palavra como pura imagem, característica mais primitiva da escrita, uma tentativa de cópia fiel dos seres e entes da realidade, a representação pura das “coisas”. A palavra é estabelecida como objeto artístico, ou seja, algo que deve ser fruído, e não apenas interrogado em busca daquilo que ela pode transmitir.

Chuva

“Chuva” foi o primeiro experimento do autor. O vídeo é uma clara referência ao movimento concretista e não apresenta uma mudança ou reformulação da prática concreta. Porém, se torna relevante por ter sido a peça que despertou todo o trabalho. “Chuva” inicia o processo de busca pela maneira própria do autor de fazer sua poesia e experimentações. Assim, é importante falar do processo criativo não somente como criador de algo à se mostrar na obra final, que se materializa no final do processo, mas também que não acontece naquele momento. A descoberta e o mergulho de fato na poesia concreta, ocorre na descoberta que o que se estava fazendo era óbvio e já havia sido feito. Dessa forma, “Chuva” serve perfeitamente como um ponto inicial nesse trabalho. Além disso, cabe citar o conceito de autopoiética, de Pineau e Le Grand, traduzido do original pelo poeta cearense Henrique Beltrão na sua tese de doutorado (CASTRO, p. 296, 2014)) e que fala que as histórias de vida – experiências do viver, onde o coração é uno com o cérebro no fazer acadêmico – trabalham para produzir sua própria identidade. No processo criativo, essa peça foi a ordem do Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo e tu conhecerás o universo e os deuses”. No caso do autor, “e conhecerás a poesia em ti.”

 

 

“Pé” interage com o chão da sala e o expectador. As letras brincam de imitar, e seguem os passos de quem se coloca diante da projeção. Através de sensores colocados no chão, vemos o caminhar da palavra e a dança das letras. Ainda como recurso criativo, “Pé” pode ser uma descoberta do próprio caminhar e convida a brincadeira de reinventar os próprios passos. Desde correr até andar lentamente pela sala, o expectador é convidado a criar ritmos diferentes pelo quadro-negro ao fundo.

 

Grade

O contato tardio do autor com a cidade grande, trouxe uma percepção diferente do espaço urbano. Através do estranhamento do seu habitat de origem – a praia – o poeta procurou semelhanças na capital: o cimento cinza, o duro concreto que divergia da água salgada e da areia fina da beira do mar, trouxeram a necessidade de enxergar leveza na cidade. Tal como criança que imagina as nuvens feitas de algodão-doce, o poeta a imagina em sua forma pura, na palavra, e que para ele, amante do dito e não-dito, transfigura-se na própria nuvem que passa no céu, branca na página e carregada de letras.

 

Cidade-nuvem

O contato tardio do autor com a cidade grande, trouxe uma percepção diferente do espaço urbano. Através do estranhamento do seu habitat de origem – a praia – o poeta procurou semelhanças na capital: o cimento cinza, o duro concreto que divergia da água salgada e da areia fina da beira do mar, trouxeram a necessidade de enxergar leveza na cidade. Tal como criança que imagina as nuvens feitas de algodão-doce, o poeta a imagina em sua forma pura, na palavra, e que para ele, amante do dito e não-dito, transfigura-se na própria nuvem que passa no céu, branca na página e carregada de letras.