Artista: Mayara Queirós. 2018. Fanzine. V.2 MMPMA.

A escrita é, pra mim, em seu processo, um tormento. Mas se consigo fazê-la e gostar, sinto euforia, embora invariavelmente no outro dia ache tudo um tanto ridículo e desnecessário. Escrevo pelo contentamento do depois imediato e porque, das expressões (artísticas?), é a única que executo com certa razoabilidade. E assim justifico a escolha da escrita como ferramenta basilar para a execução deste trabalho, embora não tenha o formato definido, devo me valer das palavras para a sua realização. Ou não, já que a própria criação desse projeto tem sido um processo martirizante e demorado.

Depois de descartar algumas ideias talvez mais interessantes, mas menos bem resolvidas, parto de Ana Cristina César (poeta que gosto muito talvez porque conheça poucas, rs)  pra remontar histórias da minha infância e adolescência e, ao passo que penso em trazê-las à tona, penso também em criar catacumbas para elas. Simultâneamente, ressuscitar e sepultar as coisas passadas. No seu poema “recuperação da adolescência”, Ana é sucinta:  “É sempre mais difícil ancorar um navio no espaço”. O que me leva a pensar na infância e adolescência como territórios de possibilidades. Se tudo é menos difícil que ancorar um navio no espaço, tudo que está abaixo tem potencial possibilidade de realização.