Artista: Maria Manuela Lopes. 2017. Videoperformance. V MMPMA.

 

Esta instalação transmite e destaca os traços abstratos, mas reconhecíveis, que permanecem depois de uma pessoa/coisa desaparecer, ou seja, a memória. A instalação apresenta ao espectador uma “casa esterilizada” plena de luz ultravioleta. O momento de deceção acontece quando se percebe que o interior asséptico contrasta com o exterior palpável, respirável e permeável. A obra explora a transparência visual da película aderente e do líquido que permeia a membrana, permitindo uma invasão visual no interior da moldura que evoca uma casa (o nosso porto seguro, o nosso corpo), mas o acesso físico ao interior é negado. O contato direto com o espaço interno não é permitido e protegido por
uma membrana fina, quase invisível, que sugere visualmente a superfície do mar e evoca a força invisível de nosso sistema imunológico. A situação de presença / ausência que explora expande o afeto visual numa imagem não fixa, que muda de acordo com o movimento dos espectadores no espaço (a perceção da luz altera devido à viscosidade da membrana) e ao desejo / habilidade do toque do espectador que permeia a membrana e deixa rastros pessoais na superfície.
Consciente de que as memórias são moldadas pelo contexto sociopolítico em que são produzidas e também pela cultura tecnológica e material acessível para produzi-las, replicá-las, arquivá-las e recuperá-las, questiono como a prática artística e as tecnologias têm interesse nos procedimentos complexos da lembrança e esquecimento e o desejo de expandir as aparentes limitações humanas (corporais), imprescindível no momento presente em que o toque e a proximidade são tabu e uma imunidade adaptativa é o que almejamos.